As palavras de uma das dezenas de pessoas presentes nestes primeiros momentos são preciosas para traduzir os sentimentos que permearam os dias iniciais do trabalho no Remanso Fraterno...
Quando recebemos a informação de que precisávamos montar uma equipe e começar um trabalho no Remanso Fraterno, nome sabiamente sugerido pelo amigo espiritual José Grosso, temos que confessar que ficamos surpresos e um tanto quanto temerosos, pois lá era uma mata fechada, num bairro distante de Niterói, 30 km aproximadamente de nossas residências, e nós tão urbanos…
Entretanto, não nos faltou, em um só dia, orientações e instruções de nossos dirigentes. Jamais eles colocariam nossas vidas em situações de risco. Estávamos certos disto.
As orientações do Raul (Teixeira) chegavam-nos com muita propriedade. A nossa confiança nele e nos instrutores espirituais era tão grande que foi fundamental para o nosso engajamento nessa empreitada. Amigos do espaço nos protegeriam, e não nos faltariam as intuições para que iniciássemos naquela área rural uma atividade dedicada à criança, dizia-nos ele.
Em Abril de 1988, o espirito Joannes enviou à nossa equipe uma mensagem de encorajamento, da qual transcrevemos alguns trechos:”
“Acompanhamos, com os agradecimentos do Nosso Jesus, os nossos serviços que a nossa Casa, em hora de reestruturação das lides assistenciais, vem operando. Nossos Maiores e nós, igualmente, estamos empenhados na mais ativa realização fraternal e operosa em nosso Remanso, amparados pelo Pensamento do Cristo, na ação de vários dos seus Emissários.”
“…não se abatam ante quaisquer empeços ou delongas, nessa ou naquela providência.”
“…seguiremos alteando o nosso estandarte espirita, competindo a todos nós, que mourejamos em nossa SEF, pôr mãos à obra e marcharmos para as ações que o Senhor de nós aguarda e para o que nos tem oferecido as devidas condições. Não lhes faltarão a assistência do Mais Além, como têm recebido os demais setores de nossa Casa. Alegrem-se com os ensejos nobres de colocar energias jovens e vibração de disposição e firmeza em favor do bem geral. Alimentem, assim, com clareza, conhecimento e amor, os nossos pequenos que, em breve, se multiplicarão, ofertando, todos, a Jesus, o tempo, os conhecimentos e o amor, cooperando com a paz do mundo.”
Desnecessário dizer aqui da alegria que sentimos ao lermos esta mensagem. Ela ainda é alimento para nossas almas.
Já nessa época, havíamos capinado uma parcela do terreno próximo à rua e abrimos uma clareira, a fim de que pudéssemos percorrê-lo com segurança.
O trabalho começou aos sábados e graças à ajuda de uma professora local, Nilma, irmã de um amigo da SEF, Marcão, conhecemos muitas famílias, e estas permitiram que seus filhos nos acompanhassem até o Remanso, caminhada de aproximadamente 2 km na ida e volta. Essa professora foi fundamental para que as famílias acreditassem em nós.
Nessa época, nenhum de nós possuía carro, portanto, o trajeto a partir de nossas casas durava em média quase uma hora até a casa da prof.ª Nilma. Nós nos reuníamos lá com as crianças, e carregávamos pranchetas, plásticos pretos em quantidade para que todos nós pudéssemos sentar no chão. Levávamos também material escolar suficiente para as aulinhas, galões de água, chocolate, pães e caixa de primeiros socorros.
Era uma festa!!! Tudo muito pesado, mas ninguém reclamava. Sentíamos uma alegria tão grande em estarmos com as crianças que o trabalho árduo, cansativo não era obstáculo para estarmos todos lá novamente no sábado seguinte. Durante este trajeto, aproveitávamos de forma bem natural para conversarmos , obtermos informações preciosas a respeito de nossos alunos.
Iniciamos com peças de teatro, por isso, éramos conhecidos como os “tios do teatro”. Todas as peças eram engraçadas. Amarravámos cada ponta de um lençol em duas árvores e as crianças após o lanche, curtiam e interagiam com as histórias dos bonecos de pano, confeccionados por Ângela Deise.
Pouco tempo depois, devido à necessidade, começamos o trabalho de reforço escolar. Cada pedaço de plástico preto era uma série escolar. E apesar de nossa escola ainda não ter paredes e teto, havia o respeito pelas regras. Mesmo sem recursos materiais e sem o conforto de uma casa com salas e banheiro, pasmem, nada nos impediu de realizar passeios pelo Remanso, promover reuniões de pais, festas juninas e festa de final de ano. Tudo à sombra de nossa pitangueira, que ainda servia de cabideiro para nossas bolsas e sacolas.
Durante as chuvas repentinas, corríamos para a casa de um vizinho de nosso terreno, e nos abrigávamos na varanda. Muitas vezes voltamos com as crianças debaixo dos plásticos sob chuva intensa.
Com o passar do tempo, chegamos à conclusão de que era hora de iniciar a evangelização propriamente dita. Daí, uma equipe passou a atender às crianças aos domingos.
No dia 20 de março de 1988, Divaldo Franco esteve no Remanso a convite do Raul, proferiu algumas palavras a respeito do trabalho que estava por vir e Dr Bezerra de Menezes finalizou com uma prece a Jesus, rogando por todos nós. Foi colocada deste modo, a pedra fundamental no RF.
O tempo passou, inúmeros companheiros deixaram lá suas marcas de suor e luz, outros precisaram sair por motivos pessoais, e tantos outros retornaram à pátria espiritual.
Incontáveis amigos de nossa Casa enviaram-nos recursos para levantar as casas que chamamos de administrativa, saúde, escola e núcleo. (…).”
Elaine Dornellas